A indústria farmacêutica, mesmo nos momentos de crise e recessão, segue investindo em inovação e no desenvolvimento de novas tecnologias em saúde.
Segundo Wilson Borges, consultor e palestrante com passagens por empresas como Pfizer, Roche e Zambon, em 2019, apontam dados do Tufts Center for the Study of Drug Development, centro de pesquisa independente que realiza estudos sobre investimento em desenvolvimento de drogas nos Estados Unidos – o país investiu cerca de US$ 180 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos. A expectativa é de que essa cifra deva ultrapassar os US$ 200 bilhões até 2024.
“Quando olhamos para a frente, esses dados ficam ainda mais representativos na medida em que a população envelhece, pois hoje não falamos apenas em inovar para curar doenças, mas também para promover melhor qualidade de vida às pessoas que convivem com enfermidades crônicas ou autoimunes”, comenta Borges. Ele destaca ainda que se algo não mudou nas últimas décadas para a indústria farmacêutica foi o desejo de inovar e investir em pesquisa e desenvolvimento.
Mas não é possível falar de futuro sem olhar para trás e observar o quanto o setor farmacêutico tem avançado. Na opinião de Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), são os avanços dos últimos anos que têm proporcionado às pessoas viverem mais e melhor.
“Hoje, encontramos profissionais de 65, 70 anos, extremamente ativos, gerando riqueza para o nosso país. Nos últimos dez anos, devido a um grande fluxo de informações, as pessoas começaram a perceber que precisavam olhar com mais atenção para a sua saúde, e a importância de se exercitar, de se preparar para a velhice com uma qualidade de vida melhor.”
Nesse cenário, Mussolini também avalia o importante papel da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos últimos dez anos, deu um grande salto em termos de qualidade. “Hoje, temos uma agência que foi criada há pouco mais de 23 anos e que é vista com credibilidade por agências mundiais centenárias.” Isso tudo impacta positivamente o futuro da indústria farmacêutica e dos pacientes.
Focando no futuro
Olhando para o futuro, e principalmente analisando os últimos anos de pandemia, Mussolini não tem dúvidas ao afirmar que o futuro está na pesquisa e na ciência. E comentou sobre as dificuldades que ainda existem no Brasil quando se pensa em investimentos privados em universidades públicas para fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos. “Uma das coisas que a pandemia nos mostrou é que precisamos investir em autossuficiência. Mas não só para a produção de insumo farmacêutico ativo (IFA), mas também para a formação de cérebros.”
Borges compartilha da mesma opinião, e comenta a necessidade de recursos financeiros e pessoas capacitadas para levar adiante projetos inovadores, como os de biossimilares, biotecnologia e genoma.
“A indústria farmacêutica brasileira tem apresentado uma série de iniciativas para o desenvolvimento de moléculas inovadoras, porém, com o surgimento acelerado de novas tecnologias, a nova demanda regulatória pede mais testes, mais pacientes e mais tempo de análise. Tudo isso faz o desenvolvimento farmacêutico ficar bem mais caro e de difícil acesso aos mercados emergentes”, diz Borges.
Ambos os especialistas avaliam como um ponto delicado a questão dos investimentos em P&D no Brasil. “Considerando que o desenvolvimento de um produto, em média, leva dez anos e, segundo as estatísticas, de cada dez drogas só uma vinga, o risco do investimento é muito alto, algo que o empresário nacional não está acostumado. Temos iniciativas pontuais, como é o caso da Bionovis, mas os empresários brasileiros têm um certo receio, porque ele corre o risco de passar anos investindo milhões e chegar lá no final o produto não se mostrar eficaz”, avalia Borges.
Para Mussolini, um fator que impede os investimentos em P&D é a questão da quebra de patentes, o que ele avalia como desproposital, e questiona: “Quem vai querer investir em inovação se não tiver a propriedade intelectual intacta? Nós sabemos que o governo não pode investir milhões em pesquisa correndo o risco de elas fracassarem. O dinheiro público tem que ser usado naquilo que traz retorno para a sociedade.”
Na opinião de Borges, o Brasil foi, é e será sempre um dos principais mercados globais. “Qualquer empresa farmacêutica que queira realmente crescer tem que estar no Brasil. Temos um mercado gigante e muitos programas bons de acesso à medicação gratuita, principalmente no mercado de medicamentos de alto custo, que é praticamente 100% bancado pelo governo.”
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